Os jovens precisam de perseguir, despertar a sua vocação e contornar obstáculos, só assim é possível inserir-se no actual contexto de negócios em Moçambique. Este conselho é de Maguivelani Simão, jovem empresário da área da logística e transporte de carga, com cerca de 80 camiões, em entrevista à revista “Negócios”.
Como se define e quando nasce a veia empreendedora?
Sou jovem moçambicano e considero-me sonhador nato, pela vontade de ser alguém e fazer algo de que me possa orgulhar no futuro, tornando-me numa marca ou uma referência. Mas também caracterizo-me pelo desejo de participar na diferença do meio onde estou inserido. Acredito que é sempre possível melhorar e alcançar o que desejamos, com esforço, capacidade e criatividade, que são atributos típicos dos jovens moçambicanos, e não difiro tanto da amostra.
Durante muito tempo, ser empresário foi algo para pessoas mais velhas. Quando é que começa o boom de jovens empresários em Moçambique?
Seria arriscado demarcar, com propriedade e exactidão, o momento da explosão ou do boom de jovens empresários em Moçambique, porque é preciso fazer constar que sempre houve jovens a empreender em todos os cantos do país, embora não sejam destacados e não haja referência a eles.
Posso ousar indicar alguns factores que foram significativos nesse processo de exposição do empreendedorismo jovem. O primeiro dá-se quando a palavra empreendedorismo passa a constar dos discursos e dos processos governativos, a partir de 2005, e com isso surgem fundos governamentais para o desenvolvimento local, como o FDD, PERPU, o FAIJ… como uma primeira experiência em que os recursos são descentralizados. Outro factor a mencionar é a abertura do sistema de educação, que passa a incluir matérias sobre o empreendedorismo, e a massificação de cursos técnicos nas mais diversas áreas do saber fazer.
Como olha para o empresariado juvenil moçambicano? Qual é o perfil ideal de um bom jovem empresário?
Na minha humilde opinião, ainda é complicado falar de um empresariado juvenil de facto. Isto pela forma como olho para a juventude moçambicana no seu todo e nas dificuldades que ela enfrenta para fazer face às suas necessidades básicas e, pior ainda, aceder às oportunidades, contrariamente aos casos de sucesso isolados, em que houve o mínimo de condições criadas para que a veia empreendedora/criativa pudesse florescer.
Falo de jovens empreendedores e não empresários, numa perspectiva em que se trata de um processo evolutivo e que leva tempo. Quanto ao perfil ideal de um bom jovem empresário, acho que a maior virtude é a humildade.
O jovem moçambicano reclama acesso ao crédito bancário para iniciar o seu negócio. Como jovem empresário, que conselho dá para ultrapassar essa barreira?
O acesso ao crédito também é generalizado, e sou da opinião que qualquer proposta de solução não seria eficaz se direccionada apenas a uma das partes. Aos jovens, aconselho que se associem. O associativismo juvenil é uma ferramenta importante para dar voz e corpo aos nossos anseios.
Eu próprio dedico-me bastante ao associativismo, e faço-o desde sempre. A título de exemplo, sou vice-presidente da Associação de Pequenas e Médias Empresas (APME), com 480 associados, que constituem uma rede de apoio mútuo, onde se pode pensar em estratégias e exercer uma maior advocacia em prol de um ambiente de negócios favorável às PME, e defendo que tudo se prende com o maior consumidor e por alguma razão o que deve impulsionar a economia num país em vias de desenvolvimento e com uma população sem capacidade de aceder aos bens e serviços.
A economia de Moçambique é caracterizada por centralizar os negócios das PME no governo, como seu cliente-âncora. Em momentos de crise como este, qual é a saída estratégica para os jovens empresários manterem os seus negócios activos sem contar com o cliente-governo?
É impossível desvincular o cliente-governo das PME, e é sabido que a economia de um país é construída na base de pequenas e médias empresas, embora em Moçambique sejam pouquíssimas, se é que existem, PME de jovens que prestem serviços ao governo.
Logo, é importante criar-se uma abertura e políticas de apoio e suporte e condições para a procura ou demanda, criando políticas de defesa e incentivo às empresas de jovens, com acompanhamento ou ainda empresas de jovens com participação do Estado nos primeiros anos de implementação, para assegurar a viabilidade. Só assim as empresas de jovens poderão solidificar-se e atingir os padrões exigidos, a ponto de poderem concorrer.
Olhando para as potencialidades do mercado moçambicano na sua generalidade, se alguém lhe perguntasse qual é a melhor aposta para investir em pequeno negócio, o que aconselharia a fazer?
O empreendedor nasce de um contexto no qual ele próprio identifica um problema ou uma necessidade a que ele pode ou tenta responder, vocação e virtudes próprias. Aliado a isto, Moçambique é muito plural e contempla várias realidades, pelo que fica difícil aconselhar onde qualquer um poderá investir, com a agravante da conjuntura económica estar como está.
O que falta à maioria dos jovens empresários que abraçam negócios e depois desistem?
As perguntas desta revista são sempre assim, comprometedoras (risos)? Bem, é preciso ter em mente que, em cada 10 empreendedores, nove falham. O importante é continuar a jornada de ir falhando constantemente até atingir o ponto em que cada erro foi um aprendizado e cada obstáculo foi contornado sem necessariamente removê-lo. De certo modo, uma forma ou sistema organizado poderá dar mais vantagens num contexto em que individualmente, sem recursos, se torna cada vez mais difícil superar as dificuldades.