Pequenas decisões para grandes resultados

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Saber que temos necessidades ilimitadas; saber dizer não a cada necessidade e vontade numa sociedade cada vez mais estimulante e diversificadas ofertas é realmente uma arte, mas os bons hábitos de gestão de finanças pessoais devem-nos auxiliar a saber quando optar por um bem de grande valor-de-troca e quando por um bem de grande valor-de-uso. Em ambos os casos, o objectivo deve ser maximizar a utilização do seu dinheiro e outros recursos financeiros, mantendo sempre o equilíbrio entre a razão e emoção na decisão tomada. Tal como disse Steve Jobs, ou tem dito o Tony Robbins, “ter foco na vida é saber dizer não mais vezes do que sim”.

Olhando para as técnicas e princípios de persuasão descritas Robert Cialdini na sua obra “As Armas da Persuasão – Como Influenciar e Não Se Deixar Influenciar”, pode-se concluir que definir previamente e de forma individualmente correcta os critérios e os princípios para a tomada de decisão ajuda a aumentar as possibilidades de tomar decisões acertadas mais vezes e reduz a possibilidade de ter prejuízos de carácter material, físico, intelectual, sentimental ou mental na utilização dos recursos financeiros (dinheiro e outros).

Tomar a decisão certa não é tarefa tão fácil como pode parecer. A dificuldade que temos em tomar a decisão relativamente mais acertada para cada ocasião deve-se ao facto de que, para cada “decisão-ocasião”, precisarmos de vários dados (passados, presentes e futuros), e, para complicar ainda mais, precisamos de usar critérios e princípios que previamente escolhemos. Obviamente seria uma tarefa (quase) impossível termos de efectuar sempre os testes estatísticos e de consensos para validar a possibilidade de se acertar nas decisões a tomar.

Mas, felizmente, as experiências e conhecimentos que ganhamos como resultado dos nossos pequenos hábitos do dia-a-dia, alicerçadas na educação financeira, por vezes podem ser mais seguras e convincentes no momento de tomarmos as decisões financeiras. Muitas vezes, e de forma constante, fazemos compras nos mesmos lojistas; compramos as mesmas marcas e modelo de produtos e serviços; acreditamos que o preço revela qualidade; copiamos o que vemos nas TVs e seguimos o que está na moda, bem como acreditamos que as marcas, per si, representam qualidade. Estas tendências e hábitos revelam que há, por detrás destas decisões pessoais, uma confiança e um critério de decisão financeira de maior utilidade e benefício, fazendo com que quase ninguém recorra a testes de qualidade para validar a sua compra.

No seu livro “O ponto da Virada” (TheTipping Point, 2002), Malcolm Gladwell diz que as decisões humanas têm motivações subtis e complicadas, e não são, várias vezes, muito bem compreendidas. Por outro lado, o princípio económico do consumidor defende que, de uma forma geral, as decisões humanas devem basear-se no princípio da utilidade máxima do recurso, isto é, maximizar a utilidade e reduzindo os custos. Mas a utilidade é uma medida de satisfação relativa de um agente económico, fazendo com que cada indivíduo deva saber e utilizar os seus critérios de avaliação da utilidade de um recurso, o que faz com que a utilização de um recurso (financeiro e não financeiro) possua valor de utilidade diferente para cada indivíduo. Portanto, a experiência e conhecimentos que se ganham com pequenas, correctas e acertadas decisões podem levar a grandes e significantes resultados.

De forma geral, a utilidade ou satisfação que um consumidor tem de cada bem ou serviço é medida, pelo menos em teoria, por uma função chamada função de utilidade. Ou seja, a função de utilidade é uma transformação (modelagem) do conceito de utilidade, que faz uma ordenação dos benefícios apercebidos por uma pessoa, de acordo com a satisfação que estes lhe trarão. Portanto, esta ordenação e modelagem acontecem com as pequenas e constantes decisões que tomamos, decisões estas que fazem as grandes decisões. Felizmente, os seres humanos têm a decisão de escolha e, simultaneamente, a liberdade de determinar o tipo e o nível de satisfação que procuram, bem como o valor que irão atribuir a um determinado recurso.

A utilidade depende do valor que cada indivíduo atribui a determinado recurso ou grupo de recursos utilizados, bem como ao valor que atribuímos resultados obtidos, pelo que, de forma geral, o valor de utilidade não é linear, a não ser que aceitemos uma forma única de determinar o valor da utilidade destes recursos usados e obtidos. Mas, o mais importante em educação financeira, é termos cada vez mais, e aos poucos, a firmeza de estarmos a fazer a escolha com um nível de utilidade maior. Por exemplo, quem tem dificuldade e limitações financeiras deve começar a sua poupança aos poucos, diminuir gastos supérfluos com roupa e acessórios aos poucos, investir de forma segura e estável numa nova fonte de rendimento aos poucos, isto para dizer que, em educação financeira, a utilidade e satisfação devem ser contínuas e, aos poucos, podemos construir os grandes resultados e o caminho para a nossa segurança e liberdade financeira.

A tomada de decisões em educação financeira pode aproveitar-se da teoria e dos princípios de Utilidade Máxima Esperada (UME), que diz que um agente racional deve escolher uma acção que maximize a utilidade esperada do agente, e a UME pode ser usada directamente para a tomada de decisões simples (única acção), bem como na tomada de decisões complexas (sequências de acções). Também precisamos de enumerar todas as sequências e escolher a sequência com a máxima utilidade esperada. De forma consciente ou não, vivemos tomando pequenas e grandes decisões e realizando acções na utilização de recursos financeiros, o que faz com que a nossa vida seja o resultado das nossas pequenas capacidades e decisões financeiras, seja o resultado da nossa inteligência financeira, seja o resultado cumulativo do nosso nível de educação financeira.

Devemo-nos recordar que grandes resultados e mudanças provêm de pequenas acções e pequenas decisões. Tal como afirma Malcolm Gladwell, “somos todos, em essência, gradualistas, estabelecemos as nossas expectativas pela passagem constante do tempo. Mas o mundo do Ponto-da-Virada (ou Ponto-da-Guinada) é um momento onde o inesperado se faz esperado, onde a mudança radical é mais do que uma possibilidade. É, contrariando todas as nossas expectativas, uma certeza. “Portanto, a educação financeira treina-nos a desenvolvermos o hábito de tomarmos decisões simples e aparentemente pequenas, mas correctas e acertadas, e que pela natureza e foco das próprias decisões, ao longo do tempo, levar-nos-ão ao nosso Ponto-da-Virada, à guinada onde os resultados são realmente significativos, tremendamente expressivos e brutalmente marcantes. Quem sabe, a verdadeira liberdade financeira.

Num país ainda com grandes desafios para o desenvolvimento social e económico como Moçambique, com níveis altos de desemprego e analfabetismo, as acções de promoção da educação financeira devem priorizar e valorizar a satisfação das necessidades primárias do Homem (alimentação, habitação, saúde, educação e empreendedorismo como fonte primária de renda), como os alicerces para a satisfação das outras necessidades e vontades humanas e o exercício subsequente da liberdade de escolha e expressão. Por isso, em educação financeira, as pequenas decisões valem para os grandes resultados.

“O futuro é construído pelas nossas decisões diárias [pequenas], inconstantes e mutáveis, e cada evento influencia todos os outros [resultados].” – Alvin Tofller (escritor e futurista)

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