Frederico Jonet, director executivo da Técnica Industrial “Tivemos que aumentar significativamente o nosso nível de stocks”

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Com o agudizar da crise provocada pela pandemia da Covid-19, empresas de todos os sectores de actividade estão a pôr em marcha um conjunto de medidas para reanimar o negócio. A Técnica Industrial, SA., uma empresa do Grupo JFS dedicada à venda de viaturas, aumentou o nível de stock disponível, como forma de responder às necessidades dos clientes e suprir as lacunas na cadeia logística. O director-executivo da empresa, Frederico Jonet, é o convidado da revista Negócios para falar destas e de outras acções tomadas.

 

A Técnica Industrial, SA., é a empresa mais antiga no sector automóvel em Moçambique. Conte-nos a história desta empresa do Grupo JFS, que tem mais de seis décadas em Moçambique.

A Técnica Industrial é detida pelo Grupo João Ferreira dos Santos (JFS), um dos mais emblemáticos projectos empresariais de Moçambique, fundado em 1897, perfazendo agora 123 anos de história ininterrupta no país. O negócio automóvel chega ao Grupo nos inícios do Sec. XX para satisfazer as necessidades agrícolas, industriais e comerciais que o Grupo desenvolvia nas províncias do Norte. Essa actividade foi-se expandindo, tendo-se profissionalizado e destacado com a criação, em 1958, da empresa Técnica Industrial SA, que passou a assumir desde então todo o negócio de automóvel e a representação de marcas. Além das representações das marcas, a estratégia seguida pelo Grupo JFS para o negócio automóvel inclui duas principais operações: (1) a Motormoz, uma startup adquirida pelo Grupo em 2017 que opera na compra e venda de viaturas usadas de qualquer marca, integrando soluções novas como garantias de qualidade e leasing bancário; e (2) a Sodauto, com 260 trabalhadores, que desenvolve soluções de gestão de frota e renting de viaturas, com ou sem serviço de motoristas e especialmente focada nos grandes projectos. Para além disso, o Grupo está activamente a trabalhar em soluções de mobilidade urbana que permitam ir ao encontro do bem-estar e desenvolvimento das populações, contanto apresentar brevemente novos desenvolvimentos no mercado.

 

Que consequências a pandemia da Covid-19 trouxe à empresa? E que medidas foram adoptadas no sentido de reanimar os negócios e mantê-los competitivos?

O impacto da pandemia é global e a Técnica Industrial, SA não foge à regra. Assistimos a uma queda acentuada do mercado quando a perspectiva para este ano era de forte crescimento. Aliás, tivemos um início de ano sem precedentes e estávamos, de facto, muito entusiasmados com o que aí estava por vir. Para ter uma ideia, o mercado automóvel em Moçambique sentiu uma redução nos volumes de venda de viaturas logo a partir de Março, que caiu cerca de 14% face ao ano anterior e uma redução de 10% no total de volume do primeiro trimestre face a 2019. Em Abril, o mercado já caia 18% face ao ano anterior e em Julho 28%. Estes números só não são mais altos porque, como disse anteriormente, assistimos a um Janeiro e a um Fevereiro com um crescimento forte face ao ano anterior. Por outro lado, todo o canal logístico foi afectado e apesar da situação estar a melhorar, ainda não estamos a funcionar na normalidade, nem sabemos quando iremos estar. Este problema origina atrasos em todas as nossas encomendas, nomeadamente nas peças e viaturas novas. Assim, de forma a mitigarmos esta consequência, e de forma a podermos dar a melhor resposta possível aos nossos clientes, tivemos que aumentar significativamente o nosso nível de stocks, representando um esforço financeiro adicional muito grande, que é ainda mais notório por estarmos a vender menos, assim como o footprint que temos por todo o Moçambique, nomeadamente Maputo, Beira, Tete, Nampula, Pemba e Cuamba.

Mas a verdade é que são momentos como este estes que nos obrigam a pensar fora da caixa, e que nos obrigam a evoluir a implementar novas abordagens ao mercado. Por exemplo, fomos a primeira empresa do ramo automóvel a oferecer aos clientes a recolha e entrega das viaturas ao domicílio; fazemos uma higienização de acordo com as normas internacionais; oferecemos serviços de assistência em estrada (por exemplo, através de reboque). Para estes serviços foram criados meios de comunicação dedicados. Aumentámos o contacto e a interacção pelos canais electrónicos com os nossos clientes e potenciais clientes para evitar os encontros presenciais. Lançámos, recentemente, uma campanha buy back, onde garantimos um desconto na viatura nova se o cliente nos vender a sua viatura usada. Esta campanha tem tido uma óptima aceitação por parte do público em geral e em especial dos nossos clientes. Basta pesquisar as nossas páginas do Facebook da Fiat, Jeep e Mitsubishi.

 

Pode detalhar mais sobre esta campanha em vigor?

A ideia nasceu dentro de casa, depois de analisarmos o mercado, o momento difícil que atravessamos, e o que poderíamos trazer aos nossos clientes. Assim, estamos a dar todos os argumentos e facilidades ao cliente que quer comprar uma viatura nova. Ou seja, garantimos a compra do seu usado através da nossa empresa de viaturas usadas, a Motormoz. Garantimos um desconto adicional na viatura nova, que em alguns casos pode chegar a 600 mil meticais, dependendo do modelo. Também garantimos o seu financiamento através da pareceria feita com o Banco Único, que além de uma taxa bonificada, ainda oferece 50 litros de combustível. Por outro lado, esta nova situação que vivemos, e à qual ainda nos estamos a habituar, irá trazer mudanças severas nos comportamentos e hábitos de consumo das pessoas. Acreditamos que, por exemplo, a procura de viaturas usadas vai aumentar, pois as pessoas que puderem vão evitar ao máximo a utilização de transportes públicos.

 

Quais os requisitos para aderir a esta campanha?

A campanha consiste basicamente num desconto, que dependendo dos carros novos pode variar de 300 a 600 mil meticais, se o cliente nos vender o seu carro usado e se aceitar obviamente a nossa proposta. A condição é que o carro usado tenha menos de 10 anos e menos de 140 mil quilómetros. Se o carro vendido ultrapassar estes parâmetros, não nos comprometemos com o desconto no carro novo.

 

Quais os modelos que a Técnica Industrial disponibiliza em Moçambique?

A Técnica Industrial tem o seu negócio automóvel separado pelas marcas que representa. Assim, neste momento, temos a marca Mitsubishi, as marcas do Grupo FCA que são a Alfa Romeo, a Fiat, a Fiat Professional e a Jeep. E os camiões Fuso e Mercedes Benz pertencentes à Daimler. Neste momento, temos um portfólio bastante completo que consegue satisfazer as necessidades de todos os nossos clientes, desde o ligeiro citadino, aos Mid SUV, SUV de luxo, camiões de 4 Ton até aos camiões de 60 Ton. É de facto um privilégio ter uma oferta tão alargada. Em termos de segmentos, arrisco-me a dizer que somos a única empresa em Moçambique que tem produto em todos eles.