Nós, os moradores dos grandes centros urbanos, temos por habito, para além da moradia principal, adquirir terrenos ou quintas. São vários os propósitos destas aquisições, mas os principais são a construção de moradias ou sua valorização para um futuro trespasse e com lucro.
Enquanto não se materializarem os objectivos para os quais as quintas foram adquiridas, elas precisam de manutenção. E esta manutenção custa dinheiro que é necessário para o “chapa” ou combustível e manutenção do carro que nos transporta todas semanas para visitar e verificar as condições das quintas. Adicionalmente, precisamos desse dinheiro para pagar o guarda que garante a segurança das mesmas. E qual é a fonte desse dinheiro? Ele provem dos nossos rendimentos. Entretanto, manter uma quinta é mais uma despesa da extensa lista de despesas mensais que já temos para manter as nossas casas. Nos dias que correm, para a maioria dos moçambicanos, satisfazer estas despesas todas tem sido bastante difícil.
Nas próximas semanas, nesta página, apresentarei uma série de propostas que nos ajudem a transformar a nossa quinta numa fonte de receita em vez de ser apenas fonte de despesas. E tais propostas terão um denominador comum: uso da quinta para a criação familiar de animais para o consumo humano.
Se é apreciador de ovos, carne de pato, ganso, perú, codornizes, frango, galinha cafreal, galinha-do-mato ou coelho, não perca nenhuma edição da Revista Negócios, nos próximos meses. E hoje, para começar, proponho os caminhos a seguir para estabelecimento de uma criação de patos.
Para iniciar a criação de patos, você precisa escolher a raça. E para escolher a raça deverá ter em conta se os seus objectivos de produção são ovos, carne ou ambos. Em Moçambique, predomina a criação de patos para a produção de carne e ovos. E para estes propósitos, duas raças estão disponíveis no País: Pato Pequim e o Pato Mudo.
O pato Pequim é um pato completamente de cor branca e cresce mais rápido que o pato Mudo. De facto, ele pode atingir um peso de 3 kg entre as sete a nove semanas de idade. Suas fêmeas podem pôr mais de 200 ovos por ano. Sua carne é bastante gordurosa. Ao contrario do pato Mudo, as fêmeas do pato Pequim não são eficientes na choca dos ovos e na criação dos patinhos. Para a choca dos ovos, o criador deverá recorrer a uma incubadora de ovos. Por isso mesmo, esta raça não é recomendada para os pequenos criadores, mas é muito boa para a produção intensiva de carne.
O pato Mudo é bom para a produção de carne e pode ser facilmente reconhecido pelas suas protuberâncias carnudas e vermelhas ao redor do bico e dos olhos. Este pato é de crescimento lento e o seu peso final dependerá da maneira como será mantido e da ração que recebe. Sua carne é magra. A fêmea começa a pôr os ovos com cerca de sete meses de idade e possui dois períodos de postura por ano, com um intervalo de 12 semanas. O primeiro dura 30 semanas e o segundo 22 semanas. As fêmeas do pato Mudo chocam os seus ovos e criam de forma eficiente os seus patinhos. Esta é de facto a raça que mais se adequa para a rentabilização das nossas quintas. A informação constante nos próximos parágrafos foi produzida tendo em consideração a criação em pequena escala deste tipo de pato.
Quando se decide criar patos, deve-se providenciar um certo tipo abrigo para eles: a pateira. Os patos poem os seus ovos durante a noite e de manhã cedo, três horas depois do nascer do sol. Ao manter-se os patos dentro da pateira a noite, garante-se que eles ponham seus ovos num ambiente seguro e confortável.
A construção e manutenção duma pateira não deve exigir muito dinheiro e espaço. 1 m2 é suficiente para cinco a seis patos e a construção de ninhos para as patas porem e chocarem ovos deve ser incluída. É irrelevante o tipo de material a usar para a construção da pateira. Caniço, estacas, bambus, madeira ou arame são óptimos materiais de construção desde que não deixem escapar as aves e não permitam a entrada de predadores como gatos ou cães. O tipo de cobertura a usar é também insignificante. Porem, ela deve proteger a entrada de água da chuva e de raios solares na pateira em qualquer período do dia. Capim, caniço, chapas de zinco ou madeira são alguns dos materiais que podem ser usados para a cobertura. A pateira deve ser também bem ventilada. O ar fresco evita o surgimento de problemas respiratórios.
Para a alimentação dos patos adultos, recomenda-se o uso de farelo de milho ou sêmea de trigo. Pode-se ainda suplementa-los com ração comercial, restos de comida, cereais, hortícolas e outros vegetais. Atenção especial deverá ser dada aos patinhos. Porque têm uma elevada necessidade em proteína, recomenda-se que os mesmos sejam alimentados sem restrição com uma ração equilibrada nos primeiros 20-30 dias de idade. Ração de iniciação para patos ou frangos tem mostrado excelentes resultados no crescimento de patinhos. Recorrendo a bebedouros, tenha sempre disponível e sem restrições água potável e fresca para patos de todas as idades.
Os patos não só usam água para o normal funcionamento do seu organismo mas também para a sua reprodução. Normalmente, patos não acasalam sem água. Por isso, dê aos patos acesso à água limpa para sua limpeza na forma de uma pequena “lagoa”, ou mesmo um grande recipiente. Esta água devera ser regularmente renovada. Um pato macho é suficiente para garantir de reprodução com 10 patas. Entretanto, um macho e duas fêmeas são reprodutores razoáveis para se iniciar uma pequena criação de patos. Empresas de venda de insumos veterinários (www.intermedmozambique.com) ou instituições de ensino veterinário ou zootécnico são fontes credíveis de aquisição de reprodutores de qualidade.
Embora os patos sejam resistentes a maioria das doenças das aves, sistemas de higiene e limpeza das instalações e dos utensílios usados na pateira devem ser rigorosamente implementados. Os comedouros e bebedouros, que devem ser de plástico ou alumínio, devem ser diariamente lavados com sabão e desinfectados com “certeza”. Porque promove crescimento de bactérias causadoras de doenças, a humidade do piso das pateiras deve ser estritamente evitado. Pelo menos uma vez em cada 6 meses, os patos deverão ser desparasitados. Qualquer sinal de doença ou de quebra de produção, o Veterinário ou Zootecnista deverá ser imediatamente chamado.
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