Foi aos 12 anos que Shaazia Adam apercebeu-se da sua paixão pela moda, design e tecidos. Enquanto dedicava-se às artes e à moda, procurou aprimorar os seus conhecimentos sobre e matéria, tendo estudado em escolas internacionais. A jovem estilista moçambicana abriu a sua primeira loja em Maputo, em 2015, dedicada ao pronto-a-vestir, depois de um início de carreira que começou na alta-costura. A marca ‘Shaazia Adam’ já existe desde 2007. Nesta entrevista à ‘Negócios’, a estilista fala, entre outros aspectos, sobre a ‘Mina’, a sua nova marca criada em tempo de Covid-19.
Recentemente, apresentou uma nova marca versátil de vestuário, “Mina”. Por que razão decidiu criar uma nova marca? De onde surgiu a inspiração?
A inspiração para esta nova marca, a Mina, surgiu durante a eclosão da pandemia da Covid-19, na qual percebi que a dinâmica social das pessoas sofreu uma alteração considerável. Observei que havia uma grande demanda para a moda mais sustentável e, e sendo assim, procurei implementar peças mais baseadas em linho e fibras naturais.
Qual é a principal característica da marca ‘Mina’?
As características a destacar da marca “Mina” são a variação de cores, onde podem ver patentes as cores naturais, e cores neutras. No entanto, por vezes, tenho destacado tons mais robustos, particularmente para as coleccões de Inverno. A Mina é uma marca funcional e de “loungewear”, o que significa que as pessoas podem vestir as peças tanto de dia como de noite, seja dentro ou fora de casa. A marca ‘Mina’ é um estilo de vida, Mina sou eu, e cada mulher tem que se sentir representada pelo marca. Idealizei a Mina pensando num público que procura peças de roupa versáteis, sem descurar a qualidade. Mina é uma marca pensada para todas as mulheres que prezam a elegância, o conforto e a sofisticação. Mina é uma marca 100% moçambicana. As peças da marca abrangem todas as faixas etárias, ou seja, é pensada para um público abrangente.
Como foi o processo criativo e a pesquisa para a elaboração desta marca?
Observei que as pessoas, hoje em dia, estão muito mais conscientes, preocupadas com o meio ambiente e com o que consomem. A marca Mina surgiu, a princípio, apenas direccionada para as vendas on-line, uma vez que o contexto não nos permitia muito contacto, nós fazíamos a entrega, e desenvolvi uma estratégia à volta deste cenário por forma a promover a marca. Estando as pessoas em “lockdown”, elas precisavam de consumir algum tipo de produto, uma vez que não tinham muita liberdade para circular, e foi nestes moldes que criei uma linha de roupa que poderia ser vestida em casa, durante reuniões virtuais que se massificaram com a pandemia. O objectivo central foi sempre o de proporcionar um estilo de vida e de qualidade às pessoas, e nada como vê-las bem vestidas. Ainda que em casa, temos de nos sentir sempre bem, e foi a pensar nessas pessoas que criamos peças adequadas à actual conjuntura, para no fundo potenciar também a autoestima de cada uma delas.
Quais são as maiores novidades dessa colecção?
A versatilidade, as cores, cada uma delas complementa as outras, cada peça na minha colecção tem que poder se encaixar com outras, no sentido de evitar limitações. Ou seja, procuro em cada colecção criar peças que possam ser vestidas com outras, de colecções distintas. No fundo, são peças que podem ser combinadas com outras que a pessoa já dispunha no seu guarda-roupa. Crio peças que possam criar sinergias umas com as outras — lá está a versatilidade a que me refiro como umas das características da marca ‘Mina’.
Consta-nos que lançou uma colecção de Verão no início do ano. Fale-nos dessa colecção.
Nesta nova colecção procurei trazer peças multifuncionais, delicadas, elegantes, simples com bastante variedade, desde vestidos, calções, calças, conjuntos de saia e blusa, entre outras, incorporando o DNA da marca: versatilidade, sofisticação e elegância.
Em 2020, teve o desafio de criar peças de roupas para uma marca de roupa, em homenagem ao artista Malangatana. O que significou para si este trabalho?
Trabalhar para a marca que foi criada em homenagem ao grande mestre Malangatana foi sem dúvida um privilégio, com a Hloyase ou procurei sair da minha zona de conforto, e pensar mais fora de caixa, tentei trazer peças diferentes, onde procurei realizar um casamento harmonioso entre a moda e a arte, sem dúvida um enorme desafio. Este trabalho foi fruto de uma parceria com a Fundação Malangatana e coube-me criar roupas com traços da pintura inspirada nas obras do grande ícone da cultura moçambicana – num conceito jovem, fresco, em estampas e peças pronto-a-vestir, feitas em tecidos que se adaptam ao clima do país e do continente, em geral, designadamente a viscose, o linho e algodão. Este trabalho agregou um grande valor enquanto estilista e como criativa que sou. Com o mesmo foi-nos possível perceber que somos bastante transversais a outros estilos e que os desafios são sempre muito bem-vindos nesta “casa”.
Das colecções passadas, qual é a sua preferida? E a do Público?
A colecção que foi e continua a ser a minha preferida é a “Liberation”, penso que esta colecção simbolizou muito o meu lado de mulher empoderada. Acabava de me tornar mãe e conseguimos organizar e realizar o evento que tinha ainda alguma dimensão e requeria muito de mim. Foi um desafio enquanto mulher empreendedora e mãe, sem dúvida uma colecção que marcou bastante o meu percurso. Apresentamos a colecção no Jardim Acácias e foi um desfile com bastante de luz, glamour, criamos 27 looks elaborados ao detalhe, os bordados a condizer, da maquilhagem aos penteados, foi tudo muito bem estruturado, e senti-me de facto realizada com o resultado que conseguimos alcançar, e desde aí, sinto que a vontade é continuar em força e nunca parar.
Que tendência considera a maior aposta de 2021?
Penso que as vendas on-line tornaram-se uma grande aposta de 2021. Estou ciente de que o novo contexto instaurado pela pandemia massificou em grande escala essa tendência e garantiu que muitas marcas pudessem garantir a sua continuidade. Acredito que os desfiles virtuais são igualmente uma tendência emergente a termos em conta, o mundo está num processo de transformação visível e acredito que tudo está a direcionar-se para o mundo digital. Está cada vez mais patente que o digital é o futuro, e por isso, também estou a trabalhar nesse sentido, ou seja, para os projectos futuros.
Quais são as suas perspectivas?
Pretendo continuar a investir na marca Mina e torná-la uma marca completa em todos os aspectos. Neste momento, só temos roupa feminina, mas vamos tentar abranger outros segmentos. A casa Shaazia Adam está sempre a criar e a evoluir, à procura de soluções, inovação, então vamos sempre procurar agregar cada vez mais valor e o público pode esperar grandes surpresas em termos de roupa e acessórios. Temos agora o nosso espaço físico e pretendemos expandir ainda mais, não só a nível nacional, mas também para outros mercados além-fronteiras. Na alta costura pretendemos continuar a desenvolver intensamente o nosso trabalho, espero que continuemos a ter uma grande aceitação do público. Espero igualmente continuar a proporcionar momentos ímpares na nossa área de noivas com novas silhuetas e modelos clássicos. A alta-costura é também umas das nossas grandes apostas, sendo fundamental para mim. E quero, juntamente com a minha equipa, continuar a produzir peças de alto padrão com a Marca Shaazia Adam e peças low cost com a Mina. Pretendo abraçar novos desafios e estou pronta para proporcionar novas tendências ao púbico moçambicano.