A nível global, o sector de turismo foi um dos mais assolados pela pandemia da Covid-19. Dada a exiguidade dos fundos, a queda do sector foi brusca e instantânea, mas a retoma mostra-se lenta e onerosa. O presidente do Pelouro do Turismo, Hotelaria e Restauração da CTA, Mohamed Abdullah, fala do processo da retoma deste sector no país, defendendo que é preciso pensar além da intervenção financeira.
O sector de Turismo, Hotelaria e Restauração foi um dos mais assolados pela pandemia da Covid-19. Qual é o estágio actual do turismo no país?
O que é que se pode esperar do sector de Turismo nos próximos tempos?
Nesta fase, sabemos que a solução para o restabelecimento da normalidade passa por reduzir o risco de contaminação e isso, por sua vez, obriga ao cumprimento rigoroso de todos os protocolos sanitários enquanto, paralelamente, vai-se aumentando a imunização da população com a implementação dos planos de vacinação.
Neste momento, estamos muito preocupados com o encerramento das praias e estamos focados em encontrar formas de reverter essa situação. As nossas praias são um recurso essencial para o nosso Turismo, tal como os nossos parques e a nossa gastronomia. Precisamos de todos para recuperar.
O Turismo em Moçambique tem de forçosamente caminhar para um plano de sustentabilidade e de autonomia, munindo-se do essencial para conseguir manter-se com aquilo que o País já possui. Temos de aproveitar esta oportunidade para apostar definitivamente no desenvolvimento do nosso turismo doméstico.
O Pelouro do Turismo da CTA está a procurar soluções para três áreas sem as quais será praticamente impossível o desenvolvimento do Turismo no nosso País, nomeadamente os transportes e as acessibilidades, a optimização de recursos e infraestruturas e a divulgação e estratégia. Graças a Deus, as coisas têm corrido bem a este nível, e podemos a breve prazo estar a apresentar novidades importantes que, mais do que serem boas para o futuro do desenvolvimento do sector, são essenciais para o presente e para o reforço da esperança na recuperação do sector que todos desejamos ter.
O desenvolvimento do nosso turismo doméstico é, sem dúvida, o grande desafio, mas é também a nossa grande oportunidade. Por exemplo, a criação de um produto turístico nacional que seja diferenciado para todas as carteiras, com o potencial de democratizar o turismo entre os moçambicanos, é sem dúvida um grande desafio, mas é também potencialmente o maior e mais importante dinamizador que poderíamos desejar ter no sector.
Claro que, num processo desta natureza, existirão sempre muitos desafios pela frente, alguns dos quais bem identificados e que vale a pena mencionar, tais como: (i) a implementação de modelos de desenvolvimento sustentável, integrando as comunidades e promovendo as economias locais, envolvendo não só as empresas e os empresários da região como também melhorando as infraestruturas para o usufruto directo pelo público em geral; (ii) a melhoria da reputação dos destinos e do País no geral em termos de segurança e protecção, recuperando a confiança de turistas e potenciais investidores; (iii) a formação e capacitação das lideranças locais na implementação dos planos nacionais de valorização do produto turístico nacional; e (iv) a adopção de standards de qualidade de serviço e automatização de processos através do recurso à tecnologia.
No entanto, considerando todo o fenómeno de recuperação, o trabalho e o sacrifício associados, gosto sempre de me lembrar a mim próprio e a todos os que trabalham comigo da felicidade que é fazermos tudo isto, sabendo que o nosso País tem todo este potencial por concretizar. Somos dos poucos no mundo que se podem orgulhar disso.
Que mecanismos ou medidas existem ou estão a ser desenvolvidas para apoiar o sector do Turismo?
Existem várias ideias e hipóteses em cima da mesa, não só relacionadas com apoios financeiros ou isenções de impostos, mas também, e principalmente, com o enquadramento de cada negócio na visão que temos para o futuro do nosso sector.
A recuperação do sector não se fará apenas com intervenção financeira. Nós sabemos disso, razão pela qual estamos a trabalhar em tudo aquilo que será necessário para que quando esses apoios entrarem sejam efectivamente o que as empresas e o sector precisam, para não voltarem ao mesmo ponto de partida quando o dinheiro se esgotar.
Tenho total confiança na nossa equipa do Pelouro do Turismo, Hotelaria e Restauração da CTA e nos nossos parceiros do Governo para juntos encontrarmos as soluções necessárias e mais capazes para, a médio prazo, criarmos um sector mais autónomo, sustentável e resiliente.
Que mecanismos de gestão de colaboradores poderão ser implementados neste momento de retoma?
Um dos aspectos essenciais para podermos trabalhar em medidas concretas e sermos bem-sucedidos neste processo de retoma é a capacidade de conseguirmos ter a informação correcta, tanto sobre os negócios como sobre os profissionais que trabalham com o turismo.
Por isso, criámos na CTA, através do Pelouro do Turismo, Hotelaria e Restauração, uma plataforma online para que, com rapidez e flexibilidade, todos os profissionais do sector se registem. Em poucos passos, ficamos a saber qual a situação actual de cada um, nomeadamente se já estão imunizados. Nesta fase, é absolutamente crucial termos este tipo de informação, por meio da qual definimos estratégias e trabalhamos com o Governo em soluções para os nossos problemas.
Todo o empresariado do sector tem-se mostrado muito disponível para colaborar, com vista a alcançarmos os nossos objectivos. Sabemos que a informação está a passar e esperamos que os empregadores mobilizem os seus colaboradores para fazer este pequeno esforço que poderá fazer toda a diferença no futuro imediato de todo o sector.
O Turismo já foi um dos pilares da economia do país. Acredita que em algum momento o sector poderá voltar a sê-lo?
Tenho plena confiança nisso, aliás não faria sentido estar na liderança do Pelouro de Turismo, Hotelaria e Restauração se não tivesse. Como já tive oportunidade de referir, Moçambique é um dos poucos países no Mundo com uma enorme abundância de recursos naturais ainda por explorar, capazes de apaixonar todo o tipo de turista, desde aquele que quer praia, mar e ilhas absolutamente paradisíacas àquele que quer montanha, trilhos, parques e natureza selvagem. Tudo isto num território com um povo acolhedor, uma cultura e tradições riquíssimas e uma gastronomia fantástica.
Temos um potencial turístico difícil de igualar, mas precisamos de um plano que seja pensado de raiz e a 360 graus para favorecer o desenvolvimento do sector a partir do aproveitamento sustentável de todo este produto turístico em bruto que temos. Já vimos que este caminho tem muitos desafios, mas também acredito que é nele que residem as grandes oportunidades. É essa a visão.
O Turismo foi nomeado pelo Presidente da República como um dos pilares para o futuro da economia deste País e partilho totalmente dessa visão. Mais do que voltar a ser o que já foi, acredito profundamente que o nosso sector pode atingir patamares que nunca atingiu, criar mais postos de trabalho e gerar mais receitas do que alguma vez no passado.