UZURI: do resgate da identidade a uma marca de sucesso

Uzuri Creations Moçambique é uma empresa moçambicana dedicada à produção de acessórios e decoração, design gráfico e consultoria em moda. Paula Cuna, uma jovem moçambicana formada em Design de Moda, é a proprietária. Ela teve a ideia de criar a empresa quando residia em Angola, dada a dificuldade de encontrar alguém que cuidasse dos seus cabelos.

“De 2013 a 2014, eu tinha dreads cumpridas e quando cheguei a Luanda fui procurar alguém para cuidar delas. Entretanto, naquela altura, não achei ninguém que soubesse cuidar de dreads”, conta ela. “Passado algum tempo elas começaram a estragar-se, mas mesmo assim não as cortei. Foi daí que comecei a usar lenços”, explicou. Dada a sua persistência nos seus objectivos, ela conseguiu penetrar em outros mercados, firmando parcerias e celebrando contratos com empresas como Millennium Bim, Absa Bank e a Total. Como conseguiu este feito? “Decidi que não queria vender só a um. Decidi crescer e vender coisas grandes, então quando o Millennium Bim lançou as Mulheres deste Millennium abracei a oportunidade”, respondeu, acrescentando que “o que eu pensei ontem, vivo hoje, por isso costumo dizer que eu espio muito o meu pensamento e o que falo”. Em 2018, ganhou o prémio Challenge MFW. Em 2020, a Uzuri participou no Challenge sobre Africanidade e novamente levou o prémio para casa. “Foi algo muito diferente e incrível porque consegui colocar num só vestido detalhes que fazem parte de todas as nossas colecções. Esta foi a melhor colecção”, afirmou sorrindo.

A busca de soluções faz-nos descobrir coisas novas

Para Paula Cuna, a procura de soluções para os problemas que enfrentamos leva-nos a várias descobertas. Foi através de um árduo trabalho de investigação que ela descobriu diversas formas de amarrar o lenço, tendo criado, pouco tempo depois, o turbante Uzuri. “Trata-se de um lenço que é semi-pronto que permite enrolá-lo na cabeça quantas vezes quiser, sem que ninguém perceba que é um lenço amarrado”, disse. Este é, segundo explica a empreendedora, o começo da marca Uzuri, um atelier de moda que começou a partir de um turbante, tendo expandido a sua linha de produção para vários outros acessórios de moda, para além de vestidos com aplicações de sacos plásticos, entre outros.

Já participou em vários eventos

Em 2014, ano em que fundou a Uzuri, Paula Cuna foi para o Brasil para se formar em Arte, Costura e Confecção de Acessórios. Participou em diversos eventos de moda ao longo dos anos, como o Mozambique Fashion Week, Feira Internacional de Turismo, Essence Festival, entre outros. Volvidos três anos na moda, Paula Cuna sentia vontade de fazer alguma passarela, motivada pela premissa que carrega dentro si, segundo a qual “o pensamento de hoje dita o viver de amanhã”. “Fiz acessórios para Omar Adelino, Nivaldo Thierry em 2015, quando os dois iam a Portugal em momentos diferentes e em plataformas de moda diferentes e trabalhei com eles em acessórios como carteiras de mão”, afirmou. Ainda no mesmo ano, a filha da empreendedora participa no Moçambique Fashion Week (MFW), na categoria Kids. “Ela disse-me que gostava de fazer as roupas com capulana e a apoiei porque é algo que está fora da faixa etária dela, raramente a gente vê adolescentes com capulana. Então, queríamos mostrar que estas crianças poderiam vestir-se de forma mais moderna, e com estas estampas, e assim fizemos a colecção desenhada por ela”, conta. No âmbito do MFW,foi convidada a participar no African Design Show em Lisboa, Portugal. “Porque se falava muito sobre a escravatura, pensei numa colecção que falasse do passado, presente e futuro, a qual chamei de “Xirilo” que significa pranto ou dor”, disse. “As pessoas me perguntavam porquê a dor e eu disse, aparentemente já passou, mas nós continuamos escravizadas e dependentes”, explicou. “Eu queria trazer esta realidade”, acrescentou. A partir da colecção Xirilo, Paula Cuna foi convidada para vários programas televisivos. “Aquilo foi impressionante porque ele conseguiu trazer exactamente o meu pensamento quando ainda idealizava o que ia fazer, ele trouxe detalhe por detalhe e eu disse wau”, explica ela sobre uma reportagem feita por um jornalista que acompanhou o desfile da sua colecção. Em 2018, participou novamente no Mozambique Fashion Week, onde fez a sua primeira passarela em Moçambique. “Foi muito marcante porque falávamos do meio ambiente, buscava para esta colecção um monte de materiais que ao olho do homem vai para o lixo tanto que em nossos vestidos conseguimos incorporar pacotes de chips e de bolachas. Foi incrível ainda porque conseguimos fazer também carteira de mão com o reaproveitamento de material”, afirmou.

Evitar desperdícios

Para Paula Cuna, a indústria têxtil é uma das mais poluentes. Uma vez que sobram muitos tecidos durante a confecção das roupas, a designer de moda decidiu criar a sua colecção com base em retalhos que já existiam. “Uma das coisas que ficou como marca da Uzuri foram os botões de casca de coco que virou um detalhe a partir da colecção do meio ambiente. As cápsulas de refrigerantes, a casca dos doces e dos chocolates tornaram-se matéria-prima para a minha colecção e sempre que as visse, recolhia-as porque para mim tinham utilidade”, falou.