A agência de notação financeira Standard & Poor’s (S&P) decidiu sexta-feira manter o ‘rating’ de Moçambique em CCC+, com as boas perspectivas de exportação de gás a partir de 2028 a serem anuladas pelos elevados riscos financeiros actuais.
“As perspectivas orçamentais e económicas de longo prazo são positivas, desde que os megaprojectos de gás comecem a dar apoio a partir de 2028, mas os riscos de uma potencial troca problemática de dívida ou mais atrasos nos pagamentos da dívida continuam elevados se não houver um abrupto ajustamento orçamental”, escrevem os analistas da S&P, citados pela agência Lusa.
Na nota que dá conta da manutenção do ‘rating’ em CCC+, o terceiro mais baixo na escala de avaliação da qualidade do crédito soberano, com perspectiva de evolução estável, a S&P diz que “Moçambique continua a enfrentar desafios de fluxos de liquidez, como demonstrado pelos atrasos nos pagamentos aos credores em 2023 e pela acumulação de atrasos nos pagamentos aos fornecedores e empreiteiros”.
No relatório, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, a S&P reconhece que “o Governo está a implementar medidas para melhorar a gestão das contas públicas e consolidar as suas finanças”, mas acrescenta que “os riscos de derrapagem orçamental resultam ainda dos elevados custos com as reformas salariais, a elevada despesa para lidar com os choques relacionados com o clima, os crescentes custos do serviço da dívida e a despesa relacionada com as eleições deste ano”.
A perspectiva de evolução estável, ou seja, a ideia de que o ‘rating’ de Moçambique não deve melhorar nem piorar nos próximos 12 meses, “reflecte o equilíbrio entre as persistentes deficiências administrativas na gestão da dívida do País e as actuais pressões de liquidez, por um lado, e as perspectivas de crescimento a médio prazo mais favoráveis, por outro”.
Na nota, a S&P escreve ainda que o recomeço das obras da petrolífera francesa TotalEnergies em Cabo Delgado poderá acontecer no segundo semestre, o que fará com que as primeiras exportações de gás natural surjam em 2028, mas “até as significativas receitas dos projectos de Gás Natural Liquefeito (GNL) terem um impacto concreto, e sem uma melhoria na questão da gestão dos fluxos de liquidez, o risco de mais atrasos nos pagamentos ou de uma troca de dívida problemática (com perdas para os investidores face aos termos contratuais acordados no início) continua elevado”.
Assim, os analistas da agência de notação financeira concluem: “a situação orçamental de Moçambique vai continuar sob pressão até que a produção de GNL dos megaprojectos comece, o que pesa na capacidade de o País cumprir atempadamente as suas obrigações de dívidas”.
A nota CCC+ é a terceira mais baixa a seguir ao Incumprimento Financeiro (ou ‘default’), e está dois níveis abaixo da recomendação de investimento.