Silvino Mucavele é engenheiro formado em Construção Civil, com especialização em construção de edifícios. Os seus primeiros passos na área foram como desenhador de construção civil no Instituto Industrial de Maputo (ICM), por onde passou nos anos 90. Na época, chegou a desenhar vários projectos para um de seus professores, atitude descrita pelos colegas como exploratória. Para ele, entretanto, era uma forma de consolidar a matéria. Mucavele trabalha, nos dias que correm, a título individual e diz ter perdido a conta de quantos edifícios projectou pelo País.
Como tudo começou
Silvino Mucavele conta que, aos 18 anos, já fazia alguns desenhos e projectos para vender. Em 2001, entrou para o curso de especialidade em Construção de Edifícios no ICM. Naquela altura, já fazia trabalhos, mais concretamente desenhos para particulares, e apercebeu-se que as pessoas não levavam a sério o seu trabalho. “Se eu orçasse um projecto por 40 mil meticais, o cliente calculava que com o mesmo valor poderia comprar grandes quantidades de material de construção e dispensava o projecto”.
Silvino optou por abraçar também a área de Construção de Obras, conciliando as duas áreas, por forma a consciencializar os seus clientes sobre a importância de se projectar um edifício e fiscalizar as obras durante a fase de execução. “Em 2000, consegui algumas obras, onde trabalhei como fiscal e encarregado. Foi um pouco de atrevimento da minha parte, mas contei com o apoio do professor Loiça”, avançou.
Naquela época, ainda estudante e tendo que dividir o seu tempo entre a escola e os trabalhos, quando a sua condição financeira começou a melhorar, Silvino adquiriu um automóvel para facilitar a sua mobilidade e cumprir todas as tarefas dentro dos prazos acordados.
As áreas são distintas, mas complementares
Mucavele explica que as áreas em que actua, nomeadamente no Desenho e na Construção, são distintas, porém complementares, uma vez que toda a obra deve partir de um desenho. Na sua opinião, não basta ser um bom construtor. É, igualmente, imprescindível possuir um bom projecto, sendo para tal necessário seguir a modernidade e a tendência dos projectos, tentando ajustá-los à capacidade financeira do cliente.
“Quem idealiza o projecto é o arquitecto, que, por sua vez, manda para o desenhador que coloca no papel e, por fim, vai ao engenheiro civil que executa a obra”, esclarece.
Tendo em conta a realidade da Construção Civil no País, Silvino decidiu apostar no negócio da construção. “Não bastava ser simplesmente um técnico que faz coisas bonitas, tinha que entrar no negócio e explorá-lo o máximo possível, por isso, para além de fiscal de obras passei a ser empreiteiro”, argumenta.
O nascimento da empresa
Entre os anos 2009 e 2010, Silvino cria a sua própria empresa e passa a operar em regime de empreitada fazendo trabalhos por todas as regiões do País, sendo que grande parte dos seus clientes, empresas ou particulares, surge por recomendação de outras pessoas que conhecem os seus serviços. Conta com uma vasta equipa de colaboradores, alguns fixos e outros sazonais. A equipa das obras, que trabalha como sazonal, é solicitada quando há trabalho no terreno e remunerada de acordo com o volume do trabalho executado.
“Fazem parte da equipe fixa os que trabalham na área de Projectos. Eu faço a projecção e desenho, conto também com alguns desenhadores, dependendo do volume do trabalho e um técnico que efectua os cálculos. Partilhamos as tarefas para evitar que o projecto fique muito tempo nas mãos de um único técnico. Assim, cada um faz a sua parte”. Que vantagem existe? “Um trabalho feito por uma única pessoa poderia ser entregue ao cliente num período um mês. Feito em equipa é entregue numa semana”, explica.
Confessa que tentou trabalhar como contratado em algumas empresas. Entretanto, revela, não se adaptou porque as bases da sua carreira profissional conduziram-no ao empreendedorismo. “Preferi correr com os meus próprios pés. É verdade que é muito difícil e é preciso ser muito forte porque se passa por situações complicadas e quando não se é forte o suficiente desistimos”, explica o engenheiro, aconselhando que “é preciso persistir e seguir em frente, inovando, reinventando-se”.
As obras habitacionais no país e o papel dos conselhos autárquicos
Mucavele lamenta o facto de grande parte das obras habitacionais em Moçambique serem feitas por conta própria, desrespeitando as regras estabelecidas. Mas reconhece que “há falta de conhecimento sobre o assunto, pois as pessoas pensam que tendo 500 mil meticais e logo à priori despenderem 40 mil para o projecto, já estão a usar o valor que seria para a obra. Isso é muito errado, pois é o próprio projecto que faz o orçamento e cria a orientação para a obra. Por outro lado, as pessoas pensam que dispensando o técnico e fazer uma gestão directa da obra, estão a economizar. Daí advém a falta de qualidade das obras”.
No entender de Mucavele, os conselhos autárquicos têm o papel de fiscalizar a legalidade da documentação do espaço, no qual a obra será erguida e a aprovação do projecto, embora só o façam em zonas urbanas mais desenvolvidas ou em expansão devido à falta de capacidade e de recursos por parte das autarquias, o que contribui para a desordem que se tem verificado nas construções urbanas. “A fiscalização deveria começar pelas estruturas dos bairros, dos chefes do quarteirão, que, por sua vez, levariam o assunto às entidades competentes. Isto acontece apenas nas grandes cidades, ficando as zonas suburbanas remetidas à sua própria sorte”.
Rendimento das famílias
Outro aspecto que faz com que os munícipes dispensem os técnicos e optem por uma gestão directa das obras prende-se com os valores cobrados por estes, que são considerados bastante elevados tendo em conta o rendimento das famílias moçambicanas. Sobre este assunto o engenheiro refere: “a questão dos custos é muito sensível. O problema aqui em Moçambique é que os custos ditam o projecto e não o contrário. Tendo alguém 100 mil meticais, pode procurar um pedreiro, erguer uma obra, executá-la e habitar, mesmo sem passar por um técnico. Será uma obra de risco, mas esta é a nossa realidade, pois precisamos de habitação”.
Por outro lado, aponta o engenheiro Mucavele, há indivíduos com condições que ignoram os procedimentos recomendados na tentativa de poupar recursos. “Há pessoas com condições que preferem contornar essa situação porque não querem perder tempo e dinheiro com técnicos e projectos, e isso não é correcto”, defende.
Preocupado com a desordem do sector em que actua, Mucavele alerta para os perigos decorrentes da execução de um projecto num local não determinado, pois, segundo argumenta, tecnicamente não é recomendável devido às especificidades de cada zona e terreno. E não só… Os custos de aquisição de material de construção variam de um lugar para o outro devido a aspectos como a distância, o transporte, a logística, entre outros. “Todos estes aspectos fazem com que o mesmo projecto tenha custos diferentes em locais distintos”, explica o mesmo.