O novo PCA da Vodacom Moçambique, Nuno Quelhas, assume o destino da empresa numa altura em que, devido aos efeitos da Covid-19, a companhia de Telecomunicações é confrontada com o fenómento do consumo mais elevado de dados e com profundas mudanças a nível da interacção humana com a tecnologia. Saiba como a Vodacom se está preparar para enfrentar os novos desafios da digitalização, qual a sua contribuição social na luta contra a Covid-19, e como espera melhorar o ecossistema empresarial.
O PCA assume a direcção da VM num ano atípico, decorrente da pandemia do coronavírus, com os negócios das empresas a regredirem. Olhando para a dinâmica da digitalização a nível global, como é que a Vodacom pensa enquadrar-se no novo normal?
De facto, 2020 surpreendeu todo o mundo. A Vodacom, como todas as outras empresas, tinha uma certa estratégia pré-definida, que entretanto teve de ajustar para lidar com a crise da Covid-19.
Nos seis meses que já passaram, evidenciamos que o consumo de dados cresceu muito além das nossas expectativas e, para tal, tivemos de redireccionar o nosso investimento para garantir que pudéssemos manter a qualidade na nossa rede. Para além do consumo mais elevado de dados, este fenómeno da pandemia também está a trazer mudanças profundas a nível da interacção humana com a tecnologia. A digitalização já estava em curso, mas está a ser acelerada.
O telefone e o computador ganharam mais procura na nossa vida diária. Por exemplo, na interacção profissional com a empresa e os colegas; gestão das aulas dos nossos filhos via zoom e outras plataformas; encomenda de comida via Apps; pagamentos via Mpesa ou outras plataformas bancárias; ginásio via vídeos na net; festas via zoom; entre tantas outras mudanças.
O mundo digital chegou e não vai retroceder. Para tal, a Vodacom está a estudar formas como ampliar os serviços e conteúdos. E nesse processo estamos a pôr em vigor práticas para aumentar o conteúdo moçambicano. Queremos incentivar os empreendedores moçambicanos a criarem mais conteúdo nosso, que se aplique à nossa realidade.
Qual é a contribuição social da VM na luta contra Covid-19
Há várias iniciativas em vigor. Logo à partida, iniciámos uma parceria com o Ministério da Saúde e o INS para apoiar através do acesso privilegiado aos nossos serviços. Apoiámos também com kits de testes. Estabelecemos igualmente uma parceria com o sector do ensino superior, para apoiar os professores e alunos, por via do acesso privilegiado no uso de dados na nossa rede.
A Mpesa retirou temporariamente os custos das transacções até certos valores como forma de incentivar as pessoas a ficarem em casa e a usarem as plataformas de pagamento digital.
A Mpesa também doou mais de 30.000 baldes aos seus agentes, a nível do país, para que todos os utentes possam lavar as mãos antes de executarem os pagamentos, transformando cada agente do MPesa numa estação de lavagem das mãos.
Temos também usado a nossa plataforma na divulgação de informação de saúde pública e boas práticas de higiene para os nossos oito milhões de clientes.
Em termos gerais, quais são os desafios e a visão estratégica do presente mandato do PCA?
Em termos de estratégia da empresa, a Vodacom vai continuar a expandir a sua plataforma digital com cada vez mais soluções para os nossos consumidores.
A Mpesa continuará, também, a expandir os seus serviços e a alargar a sua base de clientes. Um dos projectos importantes passará por abrir a sua plataforma a consumidores que não sejam somente da Vodacom, mas também de outras operadoras, permitindo uma inclusão financeira cada vez mais profunda em Moçambique.
Um dos desafios é melhorar os nossos serviços. Acredito que há espaço para melhorarmos ainda mais a qualidade da nossa rede e uma das iniciativas que temos com a Google chame-se “Loon”, relativa a balões estratosféricos que podem ser posicionados em zonas remotas, para dar cobertura a populações que ainda não têm acesso à rede convencional.
Outra área que temos de melhorar é a da nossa interacção com o cliente. Estamos cientes de que os consumidores estão cada vez mais exigentes e temos de estar à altura de trazer soluções que de facto ajudem os clientes a melhorar as suas vidas. Quando temos problemas, temos de ser abertos e humildes ao resolvê-los. O nosso maior “stakeholder” é o cliente. Temos de nos tornar mais “centrados no cliente”.
O que a Vodacom pensa fazer para melhorar o ecossistema empresarial em Moçambique?
Este é um tema muito próximo do meu coração. Eu sou um empreendedor de raiz e acredito que a grande aposta no crescimento da economia moçambicana tem de partir da criação de mais empreendedores, assim como de pequenas e médias empresas.
Neste sentido, eu vejo que as grandes empresas têm um papel fundamental no apoio a estas pequenas e médias empresas, de modo a estarem capacitadas e a crescerem dentro dos ecossistemas onde as grandes empresas operam.
Estou a trabalhar com a equipa executiva e outros colegas do Conselho de Administração, para estudarmos soluções onde podemos expandir cada vez mais o ecossistema da Vodacom para estas empresas. Não só dar-lhes uma oportunidade de providenciarem serviços, mas também termos mecanismos de as capacitar para ganharem robustez a longo prazo.
A minha geração tem a oportunidade de criar um Moçambique mais sólido economicamente, onde as empresas moçambicanas possam florescer e serem fortes parceiros dos investimentos internacionais.
Consta-nos que o INCM, na qualidade de regulador, vai lançar um sistema de gestão e controlo de qualidade dos serviços prestados pelas companhias de telefonia móvel. Como se encontra a VM preparada para responder a estas novas exigências do regulador e do cliente?
Hummm… confesso que não estou a par desta iniciativa por parte do INCM. Contudo, acho que será um passo positivo. Neste momento, existe muita ambiguidade relativamente ao equilíbrio entre qualidade, preço e velocidade dos serviços providenciados pelas três operadoras. Eu sou sempre a favor da transparência, baseada em factos. Aí, os consumidores poderão tirar as suas próprias ilações e tomar decisões baseadas em factos comprovados.
Na minha experiência na Vodacom, ao longo destes 12 anos, tenho apreciado muito positivamente a forma como o INCM tem regulado o sector. Têm sido muito proactivo em garantir que este sector continue a crescer e a trazer soluções para o consumidor moçambicano.